Era uma tarde quente de verão antecipado, em novembro de 1993. Eu estava atendendo na minha loja de game, quando chega o Sr. Francisco Lima Junior (Pioneiro), desejoso em conversar acerca de uma situação que estava envolvendo a comunidade surda. Logo pensei: - Problemas!
Era sempre assim: Quando tinha alguma situação dificultosa ou embaraçosa, lá ele vinha me procurar!
Até porque a ligação ia muito além de simples amizade, pois além de eu carregar a deficiência auditiva e meus pais também serem deficientes auditivos, na verdade surdos. A ligação vinha de uma convivência familiar e eu ser batizado pelos pais dele. Esse elo com o passar do tempo fortificou-se. Para mim ele era um segundo pai e ele sabia disso e confiava em mim. Aliás sempre confiou, muito embora várias pessoas dissessem o contrário. Mas ele era um homem de opinião própria e muito autoritário.
Eu pedi à minha esposa, ficar na loja e acompanhei o Francisco (conhecido também pelo apelido de Chiquito) , até a sala que ficava em uma segunda casa. Acomodou-se, ofereci algo para beber ou comer, agradeceu, ele disse que queria conversar; Muito bem! - Disse eu, Do que se trata?
Ele fez um breve relato a respeito da criação de várias associações de surdos pelo Estado de Santa Catarina e que isso estava criando uma confusão muito grande, pois o calendário social e esportivo era feito genericamente e que criavam muita disputa entre as associações pela primazia de realizá-la.
Ele me perguntou: - O que achas? Tens alguma sugestão?
Eu respondi: - Francisco, só tem um jeito, criar um órgão disciplinador e que permita a organização e deliberação pelos atos em favor de todos. Sugeri a criar uma federação.
Ele me perguntou: - Podes elaborar um estatuto?
Sem problemas, respondi! A uestão é: Os surdos daqui (São José e Florianópolis) vão aceitar que eu faça esse trabalho?
Não sei! - foi a resposta.
Então, convoque representantes de todas as associações e vamos deliberar sobre essa questão - Intimei
Está bem, vou fazer isso! - Foi a resposta.
Em janeiro do ano seguinte compareceram todos os representantes das Associações, exceção da Sociedade dos Surdos de São José, que não mandou representante.
Como eram a maioria absoluta, iniciou-se a reunião para apresentação da proposta da criação da Federação.
Coube a mim a explanação dos motivos, dos objetivos e vantagens na existência de um órgão máximo que coordenasse todas as atividades esportivas e respectivo calendário.
Após a apresentação forma dirimidas dúvidas que ainda suscitavam entre alguns.
Com uma explanação convicente e plausível, todos concordaram e passamos a um segundo ponto: - O Estatuto que regeria a Federação. Sollicitei à Sra. Sonia Nascimento Piccolo que fizesse a explanação. Pois além de ser uma excelente e profunda conhecedora de Libras e também tem grande habilidade no trato co a língua portuguesa.
Fiz a escolha certa e ela desempenhou muito bem o papel de intérprete. Após a apresentação brilhante da Sra. Sônia, colocou-se em votação o surgimento da Federação; O que para minha surpresa, foi unânime. Discutiu-se daí uma data para uma assembléia geral, contando com a participação de associados em todo o estado de Santa Catarina.
E nela seria definido a escolha do presidente para dirigir aa entidade que acabar de surgir.
Assim foi encerrada a 1ª reunião dando o primeiro passo para efetiva criação da Federação Desportiva dos Surdos.