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O diálogo

Muito se tem falado a respeito da ausência de comunicação entre o ouvinte e o surdo. Entretanto, cabe aqui salientar, que a questão mais fundamental é o despreparo em lidar com tais situações.

É de se perguntar: - Você está preparado para enfrentar o novo? Teme o que não conhece?

Pois a coisa mais interessante é observar (e isto eu faço muito bem, desculpe a falsa modéstia, pois não sou) que muitos se dizem sabedores, conhecedores, que estão acima da média. No entanto ao deparar com uma situação como esta: - Um surdo tentando se comunicar com um ouvinte. 

Fica perdido, pasmo e certamente amendrontado por diversas razões. E seu minúsculo célebro trabalha febrilmente e impestivamente diz: - É louco! É burro! E passa a rir, dixando o indíviduo em situação vexatória, deprimente, odiosa.

E porque? É altamente ignorante em todos os aspectos. Essa minha introdução é para relatar uma situação por mim vivenciada há aproximadamente 35 anos, quando ainda tinha a companhia do meu velho guerreiro pai.

Era uma noite amena e tranquila, soprava uma brisa que vinha do sul, suavizando o dia quente daquele dia. Estávamos ali, um grupo de surdos, próximo à farmácia Catarinense, na Rua Felipe Schmith. Uma época em que a mesma fora tornada área de passeio público e consenquente proibição de circulação de veículos.

Conversávamos todos, rindo e brincando e de repente um do grupo se alterou ao observer que um pouco mais além havia um outro grupo, só que de ouvintes que olhavam em nossa direção faziam comentários e riam descaramente e alto. O surdo em questão alterou-se querendo ir até lá tomar satisfação. Eu intervi e fiz ver a ele que era exatamente o que eles procuravam. Eu perguntei se valeria a pena, discutir, brigar e ir para delegacia e no outro dia sairmos nas mancehtes dos jornais sendo tripudiados. 

Ele olhou muito sério, baixou a cabeça e a levantá-la olhou em minha direção, concordando com o fato.

O que fiz então? - Agi do mesmo jeito, contava umas piadas e olhava na direção dos provocadores e o fiz em diversas oportunidades. Como sou deficiente auditivo e não surdo, eu podia encará-los, deixando os surdos de fora. Até porque não fui que entrei, eles é que entraram, não é mesmo?

Após alguns minutos, um deles não resistiu e veio ao nosso encontro. Propositamente, fiquei calado, ouvindo o indivíduo falar. Os surdos começaram a me indagar o que ele falava e então comecei a rir no que fui acompanhado pelos demais. O sujeito ficou furioso, percebendo que não iria conseguir nada ia saindo, quando eu chamei a sua atenção. Voltou-se em minha direção e começou a vociferar: - Seu moleque, está pensando o que? Que somos palhaços? idiotas?

Eu respondi calmamente: Não, cidadão! Você e seu diletos amigos nada mais são do que um bando de estúpidos e ignorantes da raiz humana. É com pesar que vejo, o quão é estúpida a natureza humana. 

Arroga-se a sabedoria e no entanto, quando se deparam com uma situação destas; Aos invés, humildemente, buscar o conhecimento dessa nova forma de comunicação, optam pela agressão com o intuito esconder a sua ignorância estúpida.

Perguntei: - Qual a diferença física entre este cidadão e você? Assim; complementei ele é mais sábio! 

O cidadão, antes arrogante e prepotente, saiu cabisbaixo em direção de seu grupo. E, imediatamente retiraram-se daquele local em paz.

No dia seguinte, estávamos lá novamente. Só que desta vez, na esquina onde funciona a Loja Arapuã, hoje Livraria Catarinense, mantendo a nossa lida diária, e passa por nós o grupo afrontador, cumprimenta a todos nós com sinal característico do surdos. Como aprenderam eu não, mas aprenderam. E isso foi muito bacana da parte deles. Tomaram atitude de pessoas civilidadas.