Siemens acusa executivo de pagar propina
atualizado | 05-12-2013 | 07:29:51 | JornaldoSurdo
A Siemens acusa o ex-presidente da empresa, o engenheiro Adilson Primo, de ter usado uma conta em Luxemburgo para pagar propina no Brasil e fazer remessas para doleiros.
Essa conta recebeu cerca de US$ 7 milhões (R$ 16,7 milhões hoje), que teriam sido desviados da Siemens, ainda segundo a empresa.
A acusação foi feita por Mark William Gough, vice-chefe de "compliance" da Siemens na Alemanha, em depoimento à Polícia Federal, revelado ontem pelo jornal "O Estado de S. Paulo". "Compliance" é o setor que cuida de controle ético e conformidade com as leis.
Primo foi demitido da Siemens em 2011 sob acusação de ter escondido da direção da empresa na Alemanha a existência dessa conta. Ainda de acordo com a Siemens, os cerca de US$ 7 milhões foram desviados da empresa.
Ele era o titular da conta junto com outros três executivos da Siemens brasileira. Apesar da acusação, a Siemens nunca tomou providências para reaver os valores.
Gough contou à Polícia Federal que uma investigação feita em Luxemburgo descobriu que um servidor da Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear), Marcos Honaiser, recebeu US$ 30 mil (R$ 72 mil) da conta de Primo.
O executivo diz que há suspeitas de propina pelo fato de Honaiser ter sido da Marinha, na qual foi capitão-de-fragata, comandando submarinos, e da Cnen. A Siemens era fornecedora da Marinha, no projeto do submarino atômico, e também da Cnen. A tecnologia da usina nuclear Angra 2 é da Siemens.
A ordem de transferência para o servidor da Cnen foi assinada por Primo e Newton Duarte. Duarte foi diretor de energia e assinou o acordo de leniência da Siemens, no qual a multinacional diz que ela e outras empresas combinavam resultados de licitações de trens em São Paulo e no Distrito Federal.
O doleiro Antonio Pires de Almeida, que já morreu, recebeu cerca de US$ 150 mil da conta de Primo (R$ 358 mil), ainda de acordo com Gough.
Um valor não revelado no depoimento foi transferido por Pires de Almeida para uma conta mantida por outros dois doleiros: Raul Henrique Srour e Richard Andrew de Mol Van Otterloo.
A descoberta das operações na Suíça foi resultado da cooperação entre as autoridades daquele país com a polícia de Luxemburgo.
Os recursos enviados aos doleiros podem ter sido usados pelo próprio Primo no Brasil ou para pagar propina. O executivo da Siemens não especifica a data das transferências para o servidor da Cnen nem para o doleiro, mas diz que Primo operou a conta aberta em Luxemburgo entre 2004 e 2006.
OUTRO LADO
O advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, que defende Primo, diz que a acusação da Siemens é uma cortina de fumaça para esconder o fato de que a conta foi aberta por ordem da matriz na Alemanha para fazer pagamentos ilícitos. "A Siemens fazia isso no mundo todo."
Honaiser diz que não sabe por que seu nome foi citado como beneficiário de US$ 30 mil: "Eu era da administração e quem tinha contato com a Siemens eram os técnicos".
Ele trabalhou na Cnen entre 1985 e 1993 e depois foi para o Uranus, o fundo de pensão da empresa pública, do qual se aposentou em 2002.
Ele diz que já teve conta no exterior, pelo fato de ter morado na Inglaterra quando era da Marinha, mas não confirma se era na Suíça.
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com a Folha de S.Paulo