Mesmo privatizado, aeroporto do Galeão passa a ser 61% estatal
atualizada | 24-12-2013 | 08:55:05 JornaldoSurdo
O aeroporto do Galeão (RJ), privatizado em leilão há um mês, passou a contar com 61,4% de participação estatal.
A OTP (Odebrecht TransPort), que liderou o consórcio vencedor do certame, em sociedade com a Changi, de Cingapura, recebeu um investimento de R$ 1,429 bilhão por parte do BNDESPar (braço de participações em empresas do BNDES) e do FI-FGTS (fundo criado com recursos do FGTS para investimento em infraestrutura).
O BNDESPar adquiriu 10,6% da OTP por R$ 1 bilhão. O fundo de investimentos do FGTS, que já detinha 30% da empresa, entrou com R$ 429 milhões para manter inalterada sua participação.
O cálculo de 61,4% de participação estatal considera os 49% que a Infraero detém na sociedade detentora da concessão do aeroporto e as participações indiretas do BNDESPar e do FI-FGTS.
A ofensiva de recursos estatais no aeroporto é alvo de críticas. "Aeroportos são um ótimo negócio, a geração de receita é imediata, é um monopólio natural. Para que colocar capital público?", questiona o professor do Insper Sérgio Lazzarini, autor de "Capitalismo de Laços".
André Loureiro, chefe do departamento de investimentos da área de mercado de capitais do BNDES, argumenta que o investimento faz parte da política pública de apoio a projetos de infraestrutura.
Daniel Marenco/Folhapress | ||
Vista do aeroporto do Galeão, no Rio |
"Essa conta [de participação indireta] é complicada de fazer. Somos minoritários dentro da holding e com perfil financeiro. Não participamos da gestão nem indicamos os administradores."
Loureiro diz que o investimento do banco é necessário porque grandes fundos soberanos e de "private equity" (que compram participações acionárias em empresas) não têm participado de concessões de infraestrutura no país.
"Talvez porque os prazos não sejam tão atraentes e esses investimentos sejam de mais longo prazo."
Lazzarini tem outra explicação: incerteza regulatória.
"O governo cria incertezas, mudando as regras das concessões e depois o empresariado diz que precisa de capital público para compensar essas incertezas."
O professor do Insper acredita que o governo deveria ser mais seletivo na alocação de recursos. "Deveríamos concentrar esses investimentos em projetos difíceis de serem financiados, como saneamento, presídios."
METRÔ E RODOVIA
Subsidiária da Odebrecht para as áreas de Transporte e Logística, a OTP foi criada em 2010 e já é responsável por 18 concessões. Só neste ano foram cinco novos projetos, como a BR-163 (rodovia da soja), a linha 6 do metrô de São Paulo e o Galeão.
"O dinheiro que o BNDESPar está colocando na OTP não está carimbado para o Galeão ou outro investimento específico. Está indo para uma empresa que investe em 18 negócios de infraestrutura importantes para o país", diz o presidente da OTP, Paulo Cesena.
Antes de entrar no capital da OTP, o BNDESPar já havia feito outros investimentos em operadores logísticos. O fundo do BNDES detém 14,8% do capital da Triunfo, empresa que integra o consórcio que administra o aeroporto de Viracopos. Também é dono de 12,1% do capital da ALL e de 3,8% da Ecorodovias.
Ainda no setor de aeroportos, o governo está presente, indiretamente, também no capital de Guarulhos. O controlador do consórcio, a Invepar, é uma sociedade entre fundos de pensão de estatais e a construtora OAS.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
com a Folha de S.Paulo