Sede sabia de conta secreta, dizem diretores da Siemens
atualizado | 20-12-2013 | 10:24:28 | JornaldoSurdo
Dois ex-executivos de alto escalão da Siemens disseram à Polícia Federal que a conta suspeita aberta em 2003 em Luxemburgo, um paraíso fiscal na Europa, era de conhecimento da matriz alemã.
A Siemens alemã alega que só teve conhecimento dessa conta em 2008, durante uma investigação sobre supostas irregularidades em seus negócios pelo mundo.
A multinacional acusa o ex-presidente da filial brasileira, Adilson Primo, de ter usado a conta para desviar 7 milhões de euros (o equivalente hoje a R$ 22,5 milhões) da empresa.
Primo foi demitido em 2011 por justa causa. A empresa diz que houve quebra de confiança porque ele escondeu a conta da matriz alemã.
No inquérito que apura o cartel em contratos do Metrô e da CPTM, a PF investiga a hipótese de que a conta foi usada para pagar propina para funcionários públicos e políticos do governo de São Paulo, sob comando do PSDB.
Uma das razões da suspeita é que recursos da conta de Luxemburgo foram enviados para doleiros no Brasil e para um ex-servidor público.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Os executivos que disseram que não havia como a matriz não conhecer uma conta pela qual passaram 7 milhões de euros são José de Mattos Junior e Raul de Mello Freitas.
Freitas foi diretor da Siemens entre 2001 e 2011, quando foi afastado. Sua demissão não foi por justa causa, apesar de ele ter sido um dos quatro titulares dessa conta.
Mattos Junior foi gerente de auditoria interna entre 2001 e 2006, quando se aposentou. Ele foi também um dos beneficiários da conta.
A conta no banco Itaú em Luxemburgo foi aberta por ordem de um alemão, Jürgen Brunowsky, que veio para o Brasil para ser diretor administrativo-financeiro da filial brasileira da Siemens, segundo Mattos Junior.
Segundo o depoente, o executivo era "representante da matriz alemã, para atuar com independência e fiscalizar a administração brasileira".
Freitas disse à PF que "a administração da conta era feita pela pessoa nomeada pela matriz e com poderes para tanto, motivo pelo qual não acredita que fosse uma conta 'clandestina'".
A conta foi aberta pelo advogado Roberto Justo, sócio do escritório contratado pela Siemens à época. Ele afirmou à PF que intermediou, a pedido da Siemens do Brasil, a criação de três empresas offshores que receberam recursos da conta de Luxemburgo.
Em casos de fraudes, esse tipo de empresa é usado para dificultar a identificação de quem faz a movimentação.
Sergio de Bona, que era gerente geral de administração e continua na empresa como gerente de projetos corporativos, diz ter recebido instruções do advogado para que "destruísse todo e qualquer documento gerado em relação à conta e que não deveria contar sobre a existência da conta nem para sua mulher, tendo cumprido tudo à risca".
Bona ainda disse saber que "a conta não era um tema correto", mas participou da movimentação diante de um pedido do diretor financeiro.
A Siemens não quis se pronunciar sobre os depoimentos. Justo nega ter dado ordens para destruir papéis sobre a conta em Luxemburgo. "Não havia razão para pedir a destruição de documentos porque esse era um assunto institucional, da Siemens."
com a Folha de S.Paulo