Revisão do PIB de 2012 não vai dar credibilidade ao Brasil, diz S&P
atualizado | 03-12-2013 | 07:06:08 | JornaldoSurdo
Segundo presidente da agência de classificação de risco no Brasil, um dos principais problemas do país é a falta de transparência
Na última semana, a presidente Dilma Rousseff confirmou que o crescimento do PIB de 2012 será revisado de 0,9% para 1,5% (Ueslei Marcelino/Reuters)
A confiança do investidor não vai melhorar caso a revisão do Produto Interno Bruto (PIB) de 2012 mostre um desempenho superior ao 0,9% de crescimento informado em março pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Um resultado mais forte da economia no ano passado é indiferente porque a credibilidade do país está desgastada por problemas fiscais, inflação elevada e falta de transparência, afirmou nesta segunda-feira a presidente no Brasil da agência de classificação de riscos Standard & Poor's, Regina Nunes.
O IBGE divulga nesta terça-feira o crescimento do PIB do terceiro trimestre deste ano e as revisões de trimestres anteriores, com a inclusão de novas informações, entre elas, a pesquisa mensal de serviços.
A expectativa é que esse novo dado empurre o resultado de 2012 para cima. "Quando você(governo) não está surpreendendo positivamente, reavaliar nunca é bom. Quando você começa a discutir o passado para tentar cumprir as metas de hoje, isso é um problema", disse Regina. "O Brasil conta talvez com a menor credibilidade do investidor global, isso não é culpa do investidor, mas sim da falta de transparência. As discussões do passado num momento não muito bom geram um sentimento ruim", acrescentou ela.
A presidente Dilma Rousseff, em entrevista ao jornal El País, chegou a dizer que o crescimento do ano passado foi revisado para 1,5%, mais forte do que os 0,9% divulgados anteriormente. Mas depois o porta-voz da Presidência, Thomas Traumann, esclareceu que o dado é uma estimativa com base em estudos preliminares do Ministério da Fazenda.
Na segunda-feira, foi a vez do ministro da Fazenda, Guido Mantega, fazer projeções para o crescimento do PIB. Mantendo o tom otimista, o ministro preferiu arriscar uma previsão apenas para o crescimento com base anual, que, segundo ele, será de 2,5%. A comparação com o segundo trimestre do ano foi deixada de lado por ele - as estimativas do mercado apontam para uma retração do PIB.
Rating — A S&P classifica o país como "BBB", mas a perspectiva da nota brasileira é negativa. "O Brasil é, sim, um país grau de investimento e a discussão hoje é se o Brasil é triplo B ou triplo B menos", declarou ela. A agência já informou que poderá esperar até a eleição presidencial do ano que vem para decidir se o rating será reduzido.
"O x da questão é o lado fiscal com uma inflação mais para o teto da meta. Isso não traz uma dinâmica positiva no longo prazo e levanta vários questionamentos", afirmou Regina Nunes. A meta de inflação é de 4,5%, com tolerância de dois pontos porcentuais, mas desde 2010 ela fica mais perto de 6,5%, que é o teto, do que do centro.
"Hoje não se consegue colocar uma meta de fiscal e cumprir porque não se consegue fazer o país crescer devido à insuficiência de investimento e devido a uma política anticíclica que já se esgotou", disse Regina.
Crescimento — Para ela, o modelo de crescimento baseado no aumento do mercado consumidor está esgotado e o governo deve direcionar os recursos para investimentos. "O governo continuou apostando no modelo anticíclico, mas o modelo de consumo se esgotou. Credibilidade não existe só porque alguém quer", disse ela. "Um governo que faz investimento baixo e arrecada muito mostra que o dinheiro está indo para o custeio", afirmou a presidente da S&P.
com a Reuters