Bancos lançarão cartilha orientando mercado a conceder crédito responsável.
atualizado | 05-11-2013 | 15:56:52 | JornaldoSurdo
O endividamento dos brasileiros ganha cada vez mais espaço na agenda do Banco Central, das instituições financeiras, do meio acadêmico e das entidades de defesa do consumidor, apesar de os discursos oficiais apontarem que o comprometimento da renda das famílias não oferece risco à economia.
O tema tomou conta do segundo dia debates no 5º Fórum sobre Inclusão Financeira, realizado em Fortaleza.
Enquanto o BC destacou que precisa estar de olho na evolução da inadimplência para que o crédito cresça de forma equilibrada e disse que o comprometimento da renda das famílias começa a cair, os bancos anunciaram que preparam uma cartilha para orientar as próprias instituições financeiras a como conceder crédito com o selo de "responsável".
Um ponto central da cartilha, que será lançada ainda este mês, de acordo com Gustavo Marrone, diretor da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), será dicas a serem seguidas pelos bancos nas campanhas publicitárias.
"A publicidade terá que vir com uma frase sobre crédito responsável. Essa frase ainda está em estudo, mas posso fazer uma analogia com publicidade de bebidas alcoolicas que diz: se beber não dirija."
Segundo o executivo, o objetivo é alertar consumidores que "o crédito é bom, mas se for usado de maneira correta. Em excesso, ele pode gerar prejuízo muito grande à sua vida familiar."
O diretor de Fiscalização do BC, Anthero Meirelles, afirmou que o comprometimento da renda está caindo porque as modalidades crédito que mais crescem são imobiliário e consignado, que tem prazos maiores e encargos menores. Mas também destacou o esforço do BC para acompanhar a evolução dos atrasos de pagamento e, principalmente, para tentar elevar a poupança das famílias brasileiras.
"Os bancos precisam de fontes de captação de mais longo prazo. Educação financeira tem que olhar também a importâncias das famílias pouparem. Em determinados momentos, pode ser mais importante poupar do que comprar."
SUPERENDIVIDAMENTO
Na outra ponta da cadeia do crédito, entidades de defesa do consumidor mostraram que os números oficiais não retratam a situação de insolvência das famílias que são atendidas no programa de apoio ao superendividado, lançado no ano passado, pela Fundação Procon de São Paulo.
E acadêmicos alertaram para necessidade de simplificação das regras que envolvem o custo do crédito, para facilitar o entendimento e a educação financeira dos clientes.
"Dificilmente você vai encontrar um gerente de banco que sabe explicar ao cliente como se calcula o juro no cheque especial", criticou o professor José Dutra Vieira Sobrinho, vice-presidente da Ordem dos Economistas do Brasil.
"Educação financeira tem que começar dentro dos bancos para os próprios dirigentes", provocou.
Coordenadora do programa de apoio ao superendividado, Vera Lúcia Pereira, foi enfática: esses índices de inadimplência não correspondem ao que estamos trabalhando".
Segundo ela, os bancos não consideram superendividadas pessoas que comprometeram praticamente toda sua renda com pagamento de dívida e ficam sem dinheiro para as despesas essenciais.
Ela diz que quando esse cliente tenta renegociar a dívida com o banco, recebe resposta de que isso não é possível porque não está inadimplemnte.
"O cliente está pagando em dia porque contratou uma operação de crédito para não atrasar outra. Todas as suas renegociações estão sendo debitadas em conta", diz.
Como exemplo, ela citou um consumidor que tem uma dívida de R$ 28,9 mil com o banco. A renda dele é de R$ 1.837, as parcelas mensais somam R$ 1.108.
"Ele tem dois consignados em folha e dois em conta corrente. Esse consumidor não tem salário para sobreviver. E a instituição diz que ele não está superendividado. Então, o que é estar superendividado?", questiona.
com a Folha de S.Paulo