Viemos para fazer medicina olho no olho, prometem cubanas em Alagoas.
atualizado | 30-09-2013 | 15:20:26 | JornaldoSurdo
Médicas irão atuar em unidades básicas de saúde (Crédito: TNH1) |
No município de Teotônio Vilela, distante 91 km de Maceió, não se fala em outra coisa. Já se passou uma semana, mas a chegada de duas médicas cubanas na cidade de pouco mais de 40 mil habitantes é o principal assunto nas ruas. As novas habitantes despertaram a curiosidade do povo, que aguarda ansioso pelo atendimento das profissionais que serão responsáveis por duas das 16 unidades básicas de saúde (UBS). “Eu ainda não falei com nenhuma delas, mas já soube que são ‘boa gente’, a cidade toda sabe que elas estão por aqui. Eu fico feliz com a vinda delas porque isso significa uma coisa: vamos ter melhoria na saúde”, comentou a lojista Daniela dos Santos, de 20 anos. |
Ainda sem registro profissional, Amarilys Madero e Jaqueline Esteris não escondem a ansiedade em começar a atuar no Programa Saúde da Família (PSF). Distante da família e amigos, elas vieram com a missão de ampliar o atendimento à atenção básica em uma cidade que amarga baixos indicadores de saúde e algumas das piores taxas econômicas e sociais de Alagoas. Prevenir, promover e educar. Segundo Amarilys, esses são os três pilares da medicina cubana que irão guiar sua atuação no interior de Alagoas. Com a humildade de quem ainda tem o que aprender, ela diz que não veio para “mudar o mundo”, mas para transmitir o que os médicos cubanos sabem fazer melhor: o contato “olho no olho”, o diagnóstico baseado no toque, exame e atenção às queixas dos pacientes. A médica com 14 anos de experiência na saúde da família se emocionou ao falar sobre a paixão pela profissão e os motivos que a levaram a aderir ao programa federal Mais Médicos. “Nós fazemos isso por amor e solidariedade. Desde cedo, fomos educados a ajudar as pessoas e é por isso que os cubanos estão em muitos lugares do mundo; temos médicos em 67 países”, disse. Amarilys: viemos fazer medicina "olho no olho" A recepção calorosa dos alagoanos e a estrutura das unidades básicas de saúde da cidade superaram as expectativas de Amarilys. Para ela, a UBS de Imburi, povoado da zona rural de Teotônio Vilela onde irá trabalhar, é suficiente para atender à população, que "não precisa de sofisticação” na atenção primária. Ainda falando “portunhol”, a médica acredita que o idioma não será uma barreira para entender as necessidades dos pacientes. Ela conta que já vinha estudando português em Cuba, e que foi alertada pela professora de que aprenderia totalmente a língua no dia a dia do trabalho. Em sete dias, a médica já fez amigos e não vê a hora de se instalar em uma casa para oferecer um jantar típico cubano. “Estamos em uma pousada muito confortável, mas a Secretaria de Saúde já está providenciando uma casa para que tenhamos mais privacidade”, disse. “Temos gana de trabalhar” Com 11 anos de experiência no Guatemala e Venezula, Jaqueline Esteris diz que se inspirou nos médicos estrangeiros que trabalhavam na África para definir os rumos de sua carreira. Ele decidiu se candidatar ao programa Mais Médicos para encarar novos desafios e assimilar aprendizados e culturas diferentes. “Quero aprender tudo. Como falam, pensam, os costumes, a dança, tudo”, enfatizou. Jaqueline já visitou três UBS de Teotônio Vilela e não poupou elogios às unidades e organização das equipes. “Em todas, as ‘comunidades’ [equipes] estão completas”, comentou. De forma generalizada, ela chega a dizer que a estrutura da saúde no Brasil é superior a Cuba, mas que o seu país de origem é melhor na atenção primária. Jaqueline: "temos gana de trabalhar" Mesmo antes de começar a trabalhar, ela conta que já sentiu o carinho da população local e definiu o povo brasileiro em uma só palavra: alegre. E após três semanas de curso em Brasília, uma semana de capacitação em Maceió e um novo preparatório em Teotônio Vilela, Jaqueline brinca e dispara: “já participamos de muita capacitação, temos gana [vontade] de trabalhar”. “É difícil atrair médicos”, diz Secretaria de Saúde O município de Teotônio Vilela tem 16 UBS, e nove delas foram reformadas neste ano. Segundo a secretária adjunta de Saúde, Joseane Granja, outras duas passaram por pequenos reparos. Mesmo com a modernização das unidades e a proximidade do município com a capital, Joseane diz que nem sempre é fácil encontrar médico para trabalhar na cidade. “Estávamos com a carência de um, e precisamos passar meses anunciando para achar um profissional que viesse para cá”, contou. Cada UBS possui uma sala de procedimentos, enfermagem, farmácia, dentista, consultório médico, cozinha, banheiros e uma área para escovação de dentes. Joseane reforça que a prefeitura tem revertido os índices de mortalidade nos últimos cinco anos com maior investimento em políticas de saúde. Além das unidades básicas, a cidade possui duas equipes de Núcleo de Apoio à Saúde (Nasf), que conta com assistente social, psicólogo, nutricionista, fisioterapeuta e educador física. “Temos uma Nasf há cinco anos e outra deve começar agora. Também ampliamos o atendimento às gestantes, com um programa em que médicos e enfermeiros farão atendimento à domicílio”, completou. Taxa de mortalidade De acordo com pesquisa de 2010 do Datasus, a cada mil crianças que nascem em Teotônio Vilela, 18,92 não sobrevivem. Dados de 2010 do instituto dão conta que a cidade possui 62 médicos, sendo 16 da saúde da família, 110 agentes comunitários, 25 enfermeiros e nove dentistas. A expectativa de vida ao nascer, segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil de 2013, era de 67,01 ao nascer em 2010. Mais médicos em Alagoas O programa Mais Médicos selecionou 22 profissionais para atuar em Alagoas. Os médicos, sendo 20 cubanos, uma húngara e uma estadunidense, chegaram ao estado no último dia 14. Apenas dois estão com a documentação regularizada perante o Conselho Regional de Medicina de Alagoas (Cremal) e terão o registro provisório em mãos após o pagamento de um boleto. Foram contempladas com o programa Mais Médicos as cidades de Água Branca, Girau do Ponciano, Igreja Nova, Inhapi, Jacuípe, Mata Grande, Ouro Branco, Pariconha, São José da Tapera, Teotônio Vilela, Traipu, Arapiraca e Joaquim Gomes. |
com TNH1