"Mais Médicos é o passo mais corajoso dado por um presidente", diz ministro.
atualizado | 09-09-2013 | 17:15:37 | JornaldoSurdo
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou nesta segunda-feira (9) que o programa Mais Médicos, do governo federal, é o passo mais corajoso dado pela presidência do Brasil. Ele discursou durante a sanção da lei que prevê a destinação de royalties de petróleo do pré-sal para investimentos em saúde e educação, em Brasília.
"Nós sabemos que o Mais Médicos não vai resolver sozinho todos os problemas de saúde que o país tem, mas sabemos que o encaminhamento, e sua implantação tem mostrado ser o passo mais corajoso dado por um Presidente da República para levar a milhões de brasileiros que não tem condições de ter um atendimento médico", disse Padilha.
O programa Mais Médicos, do governo federal, seleciona médicos brasileiros formados aqui e no exterior, além de estrangeiros, para atuar em cidades onde faltam esses profissionais.
Na abertura do anúncio, Padilha se lembrou do lançamento do programa e disse que ele é apenas 'o primeiro passo' para a reforma do Sistema Único de Saúde no país.
"Sabemos que [o programa] será um primeiro passo dessa longa caminhada e a sanção dos royalties tem que ajudar nessa caminhada.", disse Padilha.
A presidente Dilma Rousseff reiterou o discurso do ministro ao dizer que o programa visa "a qualidade do atendimento com infraestrutura, mas também com médicos".
"Sabemos que isso é o primeiro passo para dar substância à saúde básica em nosso país. Sem isso não teríamos como privilegiar a saúde da nossa população. (...) Temos que comemorar esses 25% destinados à saúde", afirmou.
O programa vem sendo criticado pela classe médica por se voltar para contratação de médicos para bolsões de pobreza do país, sem criar uma política que reforme a estrutura dessas localidades.
Em contrapartida, Padilha disse que o ministério não nega essa necessidade, mas que a figura do médico é fundamental no atendimento.
"A alma de um serviço de saúde são seus profissionais e a gente não garante saúde humanizada sem termos os colaboradores sem formação adequada", disse.
Para Padilha, a sanção de 25% dos royalties do petróleo para a saúde faz a pasta voltar a ter uma fonte de renda para aplicar no SUS.
"Desde 2007, quando arrancaram R$ 42 bilhões do orçamento do Ministério da Saúde com a retirada da CPMF, nenhuma fonte nova tinha aparecido. Mas foi a liderança da presidente Dilma e do ministro Mercadante e pela sensibilidade dos senadores e deputados, nós voltamos a ter uma fonte para financiar o SUS, que é a única alternativa de atendimento para 145 milhões de brasileiros e brasileiras", disse.
DEMAGOGIA ELEITOREIRA
A questão dos médicos estrangeiros caiu na vala da irracionalidade.
De um lado, as associações médicas cobrando a revalidação dos diplomas obtidos no exterior; de outro, o governo que apresenta o programa como a salvação da pátria.
No meio desse fogo cruzado, com estilhaços de corporativismo, demagogia, esperteza política e agressividade contra os recém-chegados, estão os usuários do SUS.
Acompanhe meu raciocínio, prezado leitor.
Assistência médica sem médicos é possível, mas inevitavelmente precária. Localidades sem eles precisam tê-los, mesmo que não estejam bem preparados. É melhor um médico com formação medíocre, mas boa vontade, do que não ter nenhum ou contar com um daqueles que mal olha na cara dos pacientes.
Quando as associações que nos representam saem às ruas para exigir que os estrangeiros prestem exame de revalidação, a meu ver cometem um erro duplo.
Primeiro: lógico que o ideal seria contratarmos apenas os melhores profissionais do mundo, como fazem americanos e europeus, mas quantos haveria dispostos a trabalhar isolados, sem infraestrutura técnica, nas comunidades mais excluídas do Brasil?
Segundo: quem disse que os brasileiros formados em tantas faculdades abertas por pressão política e interesses puramente comerciais são mais competentes? Até hoje não temos uma lei que os obrigue a prestar um exame que reprove os despreparados, como faz a OAB.
O purismo de exigir para os estrangeiros uma prova que os nossos não fazem não tem sentido no caso de contratações para vagas que não interessam aos brasileiros.
Esse radicalismo ficou bem documentado nas manifestações de grupos hostis à chegada dos cubanos, no Ceará. Se dar emprego para médicos subcontratados por uma ditadura bizarra vai contra nossas leis, é problema da Justiça do Trabalho; armar corredor polonês para chamá-los de escravos é desrespeito ético e uma estupidez cavalar.
O que ganhamos com essas reações equivocadas? A antipatia da população e a acusação de defendermos interesses corporativistas.
Agora, vejamos o lado do governo acuado pelas manifestações de rua que clamavam por transporte público, educação e saúde.
Talvez por falta do que propor nas duas primeiras áreas, decidiu atacar a da saúde. A população se queixa da falta de assistência médica? Vamos contratar médicos estrangeiros, foi o melhor que conseguiram arquitetar.
Não é de hoje que os médicos se concentram nas cidades com mais recursos. É antipatriótico? Por acaso, não agem assim engenheiros, advogados, professores e milhões de outros profissionais?
Se o problema é antigo, por que não foi encaminhado há mais tempo? Por uma razão simples: a área da saúde nunca foi prioritária nos últimos governos. Você, leitor, lembra de alguma medida com impacto na saúde pública adotada nos últimos anos? Uma só, que seja?
Insisto que sou a favor da contratação de médicos estrangeiros para as áreas desassistidas, intervenção que chega com anos de atraso. Mas devo reconhecer que a implementação apressada do programa Mais Médicos em resposta ao clamor popular, acompanhada da esperteza de jogar o povo contra a classe médica, é demagogia eleitoreira, em sua expressão mais rasa.
Apresentar-nos como mercenários que se recusam a atender os mais necessitados, enquanto impedem que outros o façam, é vilipendiar os que recebem salários aviltantes em hospitais públicos e centros de atendimentos em que tudo falta, sucateados por interesses políticos e minados pela corrupção mais deslavada.
A existência no serviço público de uma minoria de profissionais desinteressados e irresponsáveis não pode manchar a reputação de tanta gente dedicada. Não fosse o trabalho abnegado de médicos, enfermeiras, atendentes e outros profissionais da saúde que carregam nas costas a responsabilidade de atender os mais humildes, o SUS sequer teria saído do papel.
A saúde no Brasil é carente de financiamento e de métodos administrativos modernos que lhe assegurem eficiência e continuidade.
Reformar esse mastodonte desgovernado, a um só tempo miserável e perdulário, requer muito mais do que simplesmente importar médicos, é tarefa para estadistas que enxerguem um pouco além das eleições do próximo ano. (Dr. Dráuzi Varella - médico cancerologista)
com a folha de S.Paulo