Em Brasília, vice-ministra cubana nega 'mercantilização' de médicos
atualizado | 26-08-2013 | 14:34:19 | JornaldoSurdo
Márcia Cobas adota forte discurso político e tenta mascarar o fato de que a ditadura dos Castro exporta médicos como mercadoria. Ela ainda quis dar caráter humanitário à questão
Médicos estrangeiros começam treinamento para trabalhar no Brasil. (Evaristo Sa/AFP)
A vice-ministra da Saúde de Cuba, Márcia Cobas, tentou nesta segunda-feira mascarar o comércio humano praticado pela ditadura dos irmãos Castro ao exportar médicos como mercadoria. Em cerimônia na Universidade de Brasília (UnB) para recepcionar os profissinais cubanos que trabalharão nos rincões do país deixando boa parte de seu salário para Raul Castro, Márcia adotou um forte discurso político e negou que o governo cubano sustente parte de seu Produto Interno Bruto (PIB) com a exportação de profissionais. Ela tentou dar um caráter humanitário aos acordos que envolvem profissionais cubanos - atualmente, os médicos do país atuam em 58 nações e recebem apenas parte de seus salários em todas elas - e vinculou parte dos problemas da terra dos Castro ao embargo econômico imposto desde os anos de 1960 pelos Estados Unidos à ilha.
“Não exportamos médicos, exportamos o serviço de saúde. Cuba, como todos conhecem, é um país pobre, sem grandes recursos naturais. É um país ‘bloqueado’", disse Márcia, ao participar da aula inaugural para os médicos estrangeiros e brasileiros com registro profissional no exterior. Na Universidade de Brasília (UnB), participaram da aula 176 cubanos e 23 profissionais com registro no exterior.
Enviada do governo de Havana, Márcia defendeu o sistema público de saúde em Cuba e disse que os profissionais locais têm garantia de emprego em seu país de origem, o que, segundo ela, permitira que parte dos médicos façam missões oficiais no exterior. “Cuba não mercantiliza [médicos]. Durante mais de 50 anos, Cuba prestou serviços gratuitos no Haiti, Bolívia, na América Central e na África. Temos profissionais de alta qualificação”, relatou ela.
Apesar do discurso ufanista, a vice-ministra admitiu que o salário de um profissional cubano em seu próprio país é de cerca de 800 pesos, ou pouco mais de 33 dólares mensais. Para trabalhar no Brasil, esses médicos manterão o piso em pesos, vão ganhar um adicional de 20% por trabalhar em uma missão no exterior e uma ajuda de custo de 2 500 reais a 4 000 reais do Programa Mais Médicos.
“Os médicos vem prestar serviços tendo a garantia em Cuba de seu emprego. Ou seja, não são desempregados, têm seu trabalho garantido quando terminarem a missão aqui. Nossos médicos recebem 100% de seu salário, têm proteção de sua família, saúde e educação para trabalhar nesses 58 países”, relatou a ministra.
A partir desta segunda-feira, profissionais inscritos no Mais Médicos vão passar por uma avaliação de três semanas, durante as quais terão aulas sobre o sistema de saúde brasileiro, língua portuguesa, doenças prevalentes no país, legislação e aspectos legais da prática médica. O conteúdo programático será disponibilizado por meio de tablets – distribuídos para os estrangeiros e os brasileiros com diploma no exterior. Ao final do programa, o equipamento fica sob responsabilidade das prefeituras locais.
Ao recepcionar os médicos para a aula inaugural na Universidade de Brasília, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, tentou comparar sua experiência como médico no interior do Pará com os desafios que os cubanos devem encontrar ao serem levados para as 701 cidades que não foram selecionadas por nenhum médico brasileiro nem estrangeiro durante as fases de seleção do programa. Cotado para disputar o governo de São Paulo nas eleições de 2014, Padilha chegou a mostrar aos médicos fotos suas na juventude, quando atuava junto a comunidades carentes no Pará.
“Esse modelo do Mais Médicos eu vivi na pele e com experiência concreta. Médicos e médicas indo mais perto da comunidade, estando do lado do paciente para ouvir, atender, conhecer a realidade onde mora esse paciente, isso faz a diferença em qualquer situação”, disse. “Um hospital, um tomógrafo, com ou sem médico é como um hotel de luxo [sem hóspedes], é como avião sem comandante. A casa de um caboclo com médicos comprometidos pode fazer a diferença e salvar uma vida”, completou ele.
Mais uma vez o ministro atribuiu as críticas ao Programa Mais Médicos à “ousadia” do governo federal de trabalhar para que profissionais de saúde sejam levados aos rincões do país. “O Mais Médicos é bastante ousado, corajoso, por isso tem polêmica. O Brasil gosta de debater, discutir, de ter opiniões a favor e contrárias”, contemporizou.
com a Veja