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Gasolina deve continuar a subir no ano eleitoral

Gasolina deve continuar a subir no ano eleitoral.


atualizado | 08-12-2013 | 09:08:17 | JornaldoSurdo



Na semana em que a Petrobras chegou a perder 10% de seu valor na Bolsa em um dia, a presidente da empresa, Graça Foster, disse esperar uma "compreensão maior" do mercado para o reajuste de preços recém-anunciado.

No dia 29, a estatal aumentou o diesel em 8% e a gasolina em 4%. Os valores ficaram abaixo do esperado pelos investidores, o que levou à forte queda das ações.

Graça reconheceu que a desvalorização foi "muito ruim", mas prometeu recuperar a confiança dos acionistas e reduzir, aos poucos, a diferença entre os preços cobrados no Brasil e no exterior.

Com uma tabela nas mãos, mostrou que a defasagem em relação ao mercado internacional seis dias após o reajuste ainda era de 17,8% para o diesel e 14% para a gasolina.

Ela negou que a empresa tenha desistido de implantar uma nova metodologia para os reajustes, conforme anunciara ao mercado em outubro.

Apesar de a inflação ter se tornado tema central no debate eleitoral, avisou que os preços podem voltar a subir em 2014 com a aplicação da fórmula. Graça falou à Folha anteontem, em sua primeira entrevista desde o reajuste.

Folha - Como a sra. reagiu à queda das ações da Petrobras?

Graça Foster - É muito ruim. Fiquei apreensiva pela discussão. Óbvio que ver uma queda de 10% em um dia [é ruim]. Mas tenho certeza de que à medida de que o mercado enxergue o efeito dessa metodologia...

Primeiro, estou dizendo que ela existe. Jamais faria um fato relevante [comunicado ao mercado] em cima de uma metodologia que não existe. E jamais faria uma metodologia que não trabalhasse com fatos realistas.

Esperava compreensão maior do mercado, que ele tivesse compreendido o grande avanço que fizemos. Não é "Poxa, me compreenda". É a compreensão do que estava escrito nos fatos relevantes. Mas também é preciso tempo para explicar e quantificar os efeitos da metodologia.

Podemos esperar novos aumentos em 2014?

É possível, pela metodologia, que nós possamos ter que praticar novos aumentos.

Por que não divulgar a fórmula do reajuste?

O Conselho de Administração colocou da seguinte forma: que outra metodologia, que outra fórmula de precificação da Petrobras é levada a mercado? Nenhuma. Não havia de fato a previsão de levar detalhes da metodologia, nem na sua versão inicial.

Por que o reajuste não será automático, como se esperava?

Foi uma grande discussão entre nós. Na primeira versão, o mercado entendeu que não haveria nenhuma interação da diretoria sobre o aumento. Mas [o reajuste] não é automático, passa pelo poder discricionário da diretoria da Petrobras.

Em 2009, quando o [barril de petróleo tipo] Brent estava a US$ 145 e caiu a US$ 45, ficamos ao menos um ano com preços no Brasil muito acima dos de fora. Se fosse assim [automático], a diretoria não poderia não mexer no preço.

O poder discricionário é extremamente importante. Afinal, a gente tem 100% do mercado. Não é possível repassar toda a diferença do preço internacional para fazer caixa. A gente sabe que não é assim que funciona.

E deveria ser assim?

Para a Petrobras, seria péssimo perder mercado, se a gente repassa tudo para fazer caixa e ficar sustentável. Não vale perder mercado.

Quando você coloca 4% [de reajuste] na gasolina, nas nossas simulações, já perde 0,7% de mercado. A gente pegou dois anos e viu qual é a partida que precisamos ter. Qualquer início [de aumento] tem impacto na inflação.

Houve queda de braço entre a sra. e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que era contrário ao reajuste?

O que houve foi uma intensa discussão técnica sobre a metodologia. É minha obrigação mostrar à companhia seu raio-x. Briga, embate, eu não confirmo de forma alguma. Agora, a gente mostra o que precisa produzir e captar.

Não podemos esquecer que tivemos a classificação rebaixada pela Moody's [agência que avalia risco]. Não é uma discussão trivial. Mas queda de braço não houve.

O debate arranhou a relação?

Nossa relação profissional foi engrandecida, até. O produto de tudo isso é extremamente positivo. Eu tenho uma política [de preços] referendada, uma metodologia.

E com a presidente Dilma?

Não sei nem por que poderia ter sido prejudicada.

A sra. pensou em entregar o cargo, como se especulou?

Definitivamente não [repete]. Os dias aqui são extremamente longos. Você tem problemas de toda sorte e notícias boas de toda sorte.

A Petrobras foi tema de debate nas últimas eleições presidenciais. A sra. está pronta para ataques em 2014?

Não vou discutir nem com a oposição nem com a situação. Sou uma técnica, uma engenheira, e virei presidente da Petrobras.

Se você perguntar o que eu acho do modelo de partilha [no pré-sal], considero que, em linhas gerais, é bastante conveniente.

A Petrobras neste ano entrou nos três leilões [de novos blocos de petróleo]. Deu a sua contribuição. A gente precisava renovar a nossa carteira [de áreas a serem exploradas]. Nosso portfólio já estava muito "carne de pescoço".

A sra. é cotada para assumir a Casa Civil na reforma ministerial de março. Há essa chance?

Só a presidente [Dilma Rousseff] para falar. Acho que tenho um desafio enorme na Petrobras. Aqui é a minha casa. Tenho a minha tribo aqui. Estou bem.

E se for chamada?

Eu sou extremamente disciplinada, mas não levo isso nos meus planos, não.

Este ano ficará marcado pela derrocada de Eike Batista. Isso pode prejudicar a imagem do Brasil com investidores?

Não. Deve haver umas 60 empresas que operam no Brasil [com gás e petróleo]. Acharia muito bom se a HRT e a OGX [de Eike] estivessem bem. Outra empresa se projetando seria bom. A gente divide as notícias positivas.

A Petrobras é credora da OSX, de Eike. A sra. teme perdas na recuperação judicial deles?

A gente acompanha com muita atenção. Mas a preocupação é geral em toda a indústria de bens e serviços.

Temos duas integrações de construção de módulos [para plataformas de petróleo], com o Integra, um consórcio com a Mendes Júnior e a OSX. Está indo. Mas a gente sempre tem de ter um plano B, C...


com a Folha de S.Paulo