A Audiência

Vou narrar um fato histórico e não baseado em ficção, mas um fato real! Isso aconteceu!

No artigo "Nossa Cultura" e falo da forma como agimos e como não somos bem interpretados. Antes de abordamos a narrativa, eu queria colocar uma situação e, se puderem me respondam: Porque será que é tão difícil falar a verdade e aceitá-la?

Mas vamos à história:

Um dia como qualquer outro, estávamos como sempre, na primeira hora da manhã, ali na copa esperando sair o 1º café da manhã e enquanto esperávamos ficávamos de conversa fiada, jogando fora, vamos assim dizer.

Lá pelas tantas, chega o nosso colega, Adilson que era lotado no Setor Pessoal (hoje RH) para torcar umas palhinhas e tomar também o seu 1º café. Em meio a conversa, o Adilson interrompe e quase que me intima: Dacílio, o que que tu achas de fazermos uma moção, requerimento ou seja o que for, encaminhando ao Governador Esperidião para pedir uma gratificação de gavinete? Eu imediamente, respondi: - Grande idéia! Afinal, somos mal remunerados. Só os CC (Cargos Comissionados) é que são bem pagos e raro são os funcionários da casa que assumem. Eu concordei de pronto.

E assim, começamos a elaborar o pedido. E como o Adilson era e ainda é muito bom em redação. Redigiu o texto reinvidicatório e todos os funcionários assinaram o mesmo. Solicitamos então a audiência com o novo Governador para apresentar o nosso pedido. Audiência fora marcada. Mas faltava o interlocutor e portador da dita solicitação. Achei que de bom alvitre deveria ser o mentor, mas ele rejeitou de pronto. Todos se entreolharam buscando o crucificado, me acharam!

Afinal ingênuo, rebelde, idealista e intrépido eu era e continuo sendo. Nunca e não me preocupo com as conseqüências se for por uma boa causa. Assim como Tiradentes, fui para a vanguarda enfrentar o todo´poderoso Governador.

No dia da audiência, foi um verdadeiro burburinho, muita gente estranha estavam presentes. O nosso grupo até estranhou; - Afinal era só um pedido de gratificação e ficamos surpresos com o aparecimento da mídia, até a televisiva (TV Catarinense, hoje RBS).

O pessoal estava até meio assustado. O Adilson, percebeu que o governador estava utilizando aquele expediente para criar um fato político.

Eu disse: - Atendendo as nossas reinvidicações, para mim tudo bem! - Vou sair na televisão, no jornal do almoço! Ficar famoso isso sim!

Subimos a escadaria e fomos à ante-sala do gabinete e lá chegando havia uma turba e então percebi que o Adilson estava coberto de razão.

Mas, chegamos até ali, não há porque recuar! O Governador nos recepcionou com um largo sorriso, cumprimentou a todos, um à um. Quando chegou até o estava questionou? - Você é o cabeça do grupo? Respondi afirmativamente.

Então do que se trata? - Inquiriu

Trata-se de um pedido de representação de gabinete, uma vez que prestamos serviços na "Casa do Governador" e não recebemos nada por isso. Entretanto, diversos órgãos de governo a recebem. Por isso so emissário e mensageiro da pauta de reinvidação dos funcionários da Casa Civil e Gabinete do Governador.

Passei às mãos dele a moção. Ele leu rapidamente e seguida passou às mãos do Secretário da Casal Civil, o Sr. Francisco de Assis Filho, deputado estadual eleito e licenciado para aasumir o comando da Casa Civil.( hoje Secretaria de Governo)

Enquanto repassava o documento reinvidicatório, falava: - Estou passando às mãos do Sr. Secretário da Casa Civil para a devida análise. e emendou; - Vocês sabem, o meu governo é para os pequenos.

Eu rebati de pronto: - Espero, sr Governador, que não seja o de altura. E fui mais além: Espero sinceramente que o senhor não fique na promessa e que de fato traduza a vontade popular e de atos concretos. A começar com a justiça aos servidores públicos, que Vossa Senhoria repetiu em várias oportunidades em sua campanha.

O homem ficou lívido. Quando eu percebi que a coisa ia engrossar saí o mais rápido possível e atrás de mim vários funcionários sairam. Alguns me aplaudiram, outros me criticaram.

Soube, dias mais tarde que o homem ficou furioso e procurou de todas as formas uma maneira de me demitir. Entretanto, não logrou êxito, porque era um funcionário efetivo e exemplar. Além do mais o período probatório já havia vencido.

Não havia e não  há manchas na minha carreira. E assim me perseguiu por todo o seu mandato. Concedia gratificações por função à vários funcionários. Mas quando o meu nome aparecia, era cortado. ele não admitia ter sido confrontado.

Ganhei um inimigo por ser sincero e honesto.

O mais engraçado que isto é até os dias de hoje. Não importa o quão você seja competente. O que importa é que você perca a sua dignidade em troca de um salário polpudo ou não. Mas um salário!

Estou pobre e acredito que devo ficar até o fim dos meus dias. Mas de uma coisa eu sei: - a minha dignidade e a honra, ninguém a tirará. Quando leio as biografias dos grandes que fizeram a história, eu percebo que a imensa maioria morreu na pobreza, porém com a dignidada e honra inabalável e exultada até o dias atuais. E isso é o que me basta!

Como diria Wladimir Herzog: Vocês podem quebrar a minhas  mãos, meu pés e meu corpo. Mas jamais me tirarão o que está aqui, apontando para o célebro. E dias depois foi encontrado enforcado em sua cela.

Exemplos de dignidade, nos fazem sentir melhores! É da cultura dos surdos que eu tirei. "Falar a verdade sempre! Mesmo que doa." - Isso nos dixa mais forte, perene, inabalável! É o que importa.