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A viagem e o comilão

Não sei precisar o ano e nem o mês, mas o relato que vou transcrever é de aproximadamente uns 40 anos atrás. Éramos jovens e solteiros cheios de vida, sonhos e esperanças.

Fazíamos parte do Círculo dos Surdos e Mudos de Santa Catarina, na qualidade de jogoador de futebol de campo. A nossa associação recebera o convite para participar do evento de comemoração de aniversário da Associação de Surdos de Curitiba.

E, numa tarde de sexta-feira, um grupo de atletas e alguns associados, embarcamos rumo à Curitiba.

Olha naquele tempo, não era uma viagem, mas uma aventura com riscos imagináveis em estradas esburacadas e mal sinalizadas. Mas a viagem transcorreu numa boa, chegamos lá à noite e de lá fomos para uma escola onde pernoitamos. Até porque dinheiro para bancar o hotel, sem chances. Éramos todos pobres e desempregados e aí o que viesse era lucro. Imagina a bagunça quanto se tem umas 30 pessoas eum um mesmo espaço. E aí como dormir?

Quando começamos a querer dormir era hora de levantar e se arrumar para ir ao estádio, onde no mesmo local, foi feito o sorteio das equipes que iriam se confrontar. (A fórmula do torneio vou lar em outra oportunidade).

Na hora do intervalo do almoço, como eu já disse; - todos sem dinheiro, a não ser por uns trocados, fomos em busca de um restaurante, onde a comida fosse bem baratinha. Eu, meu irmão, meu primo e mais 03 amigos sentamos à uma mesa e pdeimos o cardápio; Tudo caro e aí o que fazer? O meu irmão, "brilhante" colmo sempre, sugeriu que comprássemos um frango assando com farofa, arroz e maionese e todos concordaram na hora.

Ficamos aguuardando o nosso pedido, enquanto não vinha, ficávamos contando piada e fazendo palhaçada, principamente com meu irmão que é ouvinte e não conhecia a língua de sinais. Mas tinha umas coisas que ele sabia e o que ele não gostou nem um pouco e queria brigar. Tive que intervir e parei com a brincadeira, por longos minutos todos ficaram esperando a vinda do almoço.

Depois de tanto esperar, eis que surge o frango assado com farofa e tudo, mas para o nosso aborrecimento não era o tamanho que esperávamos, muito aquém. - Fiquei irritado com o garçom, perguntei o que era aquilo; ele me respondeu na cara dura: - Frango assado e saiu rindo. A minha vontade era de quebrar o pau. Fui seguro pelo meu primo, fazer o que? - Um pinto! caramba! Dividir essa coisa em 06, que droga?

-Meu irmão, sorrateiro, na dele, com sorriso enigimático, esperou que todos voltassem à mesa e fosse destrinchar o frango.

Qual não foi a nossa supresa: - O frango estava "batizado" pela saliva. Camarada, foi a maior confusão! Todos queriam bater nele e ele ali rindo, debochado de nossas caras. E mandou na lata: - debochem que tem troco! Todos sairam irritados da mesa e foram embora, sem ajudar a pagar a despesa.

- O meu irmão disse: - Agora é tudo meu!

- Calma lá! interpelei! - Espera aí, tu não vai comer sozinho não, seu comilão. Vamos dividir essa coisa.

- Não estás com nojo? - Perguntou

- Não, seu safado! - Respondi e continuei, antes de dares a primeira garfada, dou eu!

Retirei totalmente a pele "batizada", cortando na seqüência o meu pedaço, necessário para o meu deguste.

Já na rua, o meu pessoal, o intimou dizendo que ele jamais voltaria a participar de nossos eventos e assim, de fato aconteceu.

Em conversa, até os dias de hoje, quando nos encontramos, há quem relembre do episódio, dando boas gargalhadas.

É, o que não faz a fome, não é mesmo?